O governo de Portugal caiu, o que levou à realização de novas eleições a 18 de maio. Esta crise levanta questões sobre como os processos de imigração serão afectados. À medida que o país atravessa esta mudança política, os empregadores e os talentos internacionais que pretendem mudar-se para Portugal devem manter-se informados sobre possíveis desenvolvimentos que possam afetar os seus planos.
Eis um breve resumo do que está a acontecer e o que significa para as empresas que pretendem deslocalizar trabalhadores para Portugal.
O que é que aconteceu em Portugal?
O governo minoritário liderado pelo Primeiro-Ministro Luís Montenegro perdeu um voto de confiança no Parlamento, provocando a sua demissão. Esta crise política foi desencadeada por um escândalo relacionado com o envolvimento ativo de Montenegro numa empresa de consultoria pertencente à sua família, o que deu origem a acusações de conflito de interesses.
Embora a decisão final de destituir o Governo tenha sido tomada pelo Presidente da República Marcelo Rebelo de Sousa, este já confirmou a realização de novas eleições a 18 de maio. Prevê-se que o novo governo tome posse em meados de junho.
De acordo com a Constituição portuguesa, isto significa que o Governo passará a funcionar em modo de gestão, ocupando-se apenas das tarefas essenciais até à formação de um novo Governo após as eleições.
Estas serão as terceiras eleições em Portugal em três anos, reflectindo a atual instabilidade política. As últimas eleições foram realizadas em 2024, devido à demissão do anterior Primeiro-Ministro António Costa, pouco depois de o seu gabinete político ter sido acusado de branqueamento de capitais e abuso de poder. Com a atual crise, os dois partidos políticos mais fortes de Portugal estão agora rodeados de controvérsia. Assim, o resultado das eleições e a futura configuração do parlamento são, neste momento, incertos.
Como é que isto afecta os processos de imigração?
Para os empregadores portugueses e os trabalhadores internacionais, o impacto imediato é limitado. O Governo Provisório continuará a gerir as operações quotidianas, incluindo os processos de imigração. Eis o que precisa de saber:
1. Actuais atrasos na imigração
A Agência para a Integração, Migração e Asilo (AIMA) ainda está a processar mais de 900.000 casos de imigração. A maioria dos 440.000 pedidos de residência apresentados através do processo de "manifestação de interesse" já foi analisada. No entanto, muitos requerentes ainda estão à espera dos seus cartões de residência, sem que haja um prazo específico para a sua entrega. Prevê-se que os atrasos continuem até à tomada de posse do novo governo.
Para os empregadores que contratam talentos estrangeiros, isto significa que os tempos de processamento dos vistos de trabalho e das autorizações de residência podem continuar a ser lentos a curto prazo. Se está a planear deslocalizar trabalhadores para Portugal, é importante iniciar o processo de candidatura o mais cedo possível.
2. Cidadãos da CPLP e vistos de trabalho
Os cidadãos dos países de língua portuguesa (CPLP) estão atualmente a ter prioridade no processo de pedido de residência. Isto inclui trabalhadores de países como o Brasil, Angola e Moçambique. Se estiver a contratar trabalhadores destes países, os seus empregados podem beneficiar de tempos de processamento mais rápidos em comparação com outras nacionalidades.
No entanto, ainda não foi regulamentada a nova lei que permite aos cidadãos da CPLP requererem a residência já em Portugal. Para já, os cidadãos da CPLP devem obter um visto de trabalho antes de entrar no país.
3. Tempos de processamento da regularização da imigração
Os pedidos de visto, especialmente para os cidadãos de países terceiros, têm sofrido atrasos significativos. Em alguns casos, os vistos estão a demorar mais de 200 dias a serem aprovados. O governo interino acrescentou recentemente 50 novos funcionários aos consulados em áreas de alta demanda, como São Paulo, para ajudar a reduzir esses atrasos. No entanto, os empregadores ainda devem contar com tempos de processamento mais longos nos próximos meses.
Foram realizadas discussões sobre a possibilidade de pedidos acelerados para sectores comerciais importantes. No entanto, é pouco provável que tal venha a acontecer com o atual governo. Atualmente, os únicos procedimentos acelerados implementados dizem respeito ao grupo de trabalho "estrutura de missão", que deverá estar ativo até junho de 2025.
4. Reagrupamento familiar
Os processos de reagrupamento familiar, que permitem aos trabalhadores trazer as suas famílias para Portugal, estão atualmente suspensos. Estes pedidos não foram incluídos no processo de regularização inicial e provavelmente continuarão a ser adiados até à tomada de posse do novo governo.
5. Os documentos de imigração permanecem válidos em Portugal
Independentemente da abordagem do novo governo, de acordo com o Decreto-Lei 41-A/2024, todos os documentos de imigração devem ser considerados válidos em Portugal até junho de 2025.
Até à data, a abordagem do novo governo tem sido a de salvaguardar e dar continuidade a todas as deslocalizações activas em curso desde 2020, pelo que as futuras alterações não deverão comprometer as deslocalizações em curso.
6. Lei da Nacionalidade (Cidadania)
As discussões em curso para atualizar e regulamentar os procedimentos relativos ao pedido de cidadania serão muito provavelmente adiadas e abordadas quando um novo governo assumir o poder.
O que poderá mudar após as eleições?
O resultado das eleições poderá ter um impacto significativo nas políticas de imigração de Portugal. Eis o que os diferentes cenários podem significar:
1. Se o AD de centro-direita ganhar
A Aliança Democrática (AD), que lidera atualmente o governo do Primeiro-Ministro Luís Montenegro, adoptou uma abordagem mais restritiva em relação à imigração. Se a AD mantiver o poder, os empregadores podem esperar:
- Requisitos mais rigorosos em matéria de vistos de trabalho: A AD já revogou a política que permitia aos cidadãos de países terceiros mudarem-se para Portugal sem um contrato de trabalho pré-existente. É provável que este requisito se mantenha em vigor.
- Redução da flexibilidade na imigração: A AD comprometeu-se a pôr termo à política de imigração de "portas abertas", pretendendo reduzir o abuso da atitude de acolhimento de Portugal em relação aos imigrantes.
- Abordagem equilibrada: Embora a AD reconheça a necessidade de trabalhadores estrangeiros, pretende um controlo mais rigoroso dos fluxos de imigração, o que poderá significar mais burocracia para os empregadores.
2. Se o PS de centro-esquerda ganhar
O Partido Socialista (PS), atualmente na oposição, propôs medidas para simplificar e acelerar a regularização dos imigrantes. Uma vitória do PS poderia levar a:
- Tempos de processamento mais rápidos: O PS sugeriu a criação de métodos alternativos para regularizar os trabalhadores sem os obrigar a regressar ao seu país de origem.
- Alterações aos vistos de procura de emprego: O PS propôs um registo obrigatório no Instituto de Emprego e Formação Profissional para os titulares de vistos de procura de emprego, o que poderá ajudar a estabelecer uma correspondência mais eficaz entre trabalhadores e empregadores.
- Prazo de 30 dias para emissão de vistos: O PS defende um prazo de 30 dias para a emissão de vistos de residência quando as empresas garantem o acesso à habitação, à formação profissional e ao ensino da língua portuguesa.
3. Se houver uma coligação PS-PSD
Uma coligação improvável entre o PS (Partido Socialista) e o PSD (Partido Social Democrata) resultaria provavelmente numa abordagem mais moderada da política de imigração, equilibrando as necessidades económicas com controlos mais rigorosos. Eis como este cenário se poderia desenrolar:
- Abordagem equilibrada: Uma coligação PS-PSD adoptaria provavelmente uma posição intermédia em matéria de imigração, combinando a posição mais aberta do PS com a preferência do PSD por controlos mais rigorosos. Isto poderia significar tornar os processos de regularização mais eficientes, mantendo ao mesmo tempo algumas restrições.
- Foco económico: Ambos os partidos vêem os benefícios económicos da imigração, pelo que a coligação poderá trabalhar para atrair e manter trabalhadores qualificados através de programas específicos.
- Integração e opinião pública: A coligação terá de abordar as preocupações da opinião pública relativamente à imigração, reforçando simultaneamente os esforços de integração. Isto poderia significar políticas anti-discriminação mais fortes e um melhor apoio aos recém-chegados, incluindo o acolhimento, a formação e outras formas de assistência. Um desafio importante seria lidar com a opinião pública e com a pressão de partidos como o Chega.
4. Se a extrema-direita chegar a ganhar influência
O Chega, um partido de extrema-direita, tem adotado sistematicamente uma forte posição anti-imigração. Se o Chega ganhar uma influência significativa no novo governo, os empregadores poderão ver-se confrontados com:
- Controlos mais rigorosos da imigração: Chega associou a imigração ao crime e opõe-se à imigração com mais força do que os outros partidos. Isto poderá levar a controlos fronteiriços mais rigorosos e a um menor apoio aos imigrantes.
- Quotas de migração: Chega propôs um referendo sobre quotas de migração, que poderia limitar o número de trabalhadores estrangeiros que entram em Portugal.
- Aumento da burocracia: Os empregadores podem enfrentar mais obstáculos na contratação e relocalização de talentos internacionais se as políticas da Chega forem adoptadas.
O que é que os empregadores devem fazer agora?
Enquanto a situação política evolui, os empregadores devem:
- Mantenha-se informado: Mantenha-se a par das actualizações da AIMA e de outras fontes oficiais para compreender como os resultados das eleições podem afetar os seus planos de contratação e relocalização.
- Planear com antecedência: Se está a pensar em transferir empregados para Portugal, inicie o processo de pedido de visto com antecedência para ter em conta eventuais atrasos.
- Procurar ajuda especializada: Trabalhe com especialistas locais que o possam orientar através dos regulamentos de imigração de Portugal e apoiá-lo durante as mudanças políticas.
Conclusão
As próximas eleições em Portugal acrescentam alguma incerteza ao processo de imigração, mas, por enquanto, o governo provisório está a manter as operações de rotina. Os empregadores devem manter-se informados e planear com antecedência para garantir um processo de relocalização tranquilo para os seus talentos internacionais. À medida que o cenário político se altera, mantê-lo-emos atualizado sobre quaisquer alterações que possam afetar a sua empresa.
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